segunda-feira, 29 de abril de 2019

quando foram buscar o A. ao hospital


Fez ontem um mês que o A. foi para a instituição e que, apenas, me permitem vê-lo uma hora por semana. Durante quase três meses em que ele esteve internado no hospital, eu estava praticamente com ele 24 horas sobre 24 horas, apenas saindo para ir a casa tomar banho, beber café para espairecer um bocadinho no pouco tempo que ele se deixava dormir ou ia uma vez por semana a casa dormir porque as dores no corpo eram tantas que tinha de me render ao descanso duma cama. Durante esses mesmos meses, fui informada desde o inicio que o A. ia para uma instituição assim que estivesse melhor e até que o caso fosse resolvido, para segurança dele. Na minha inocência e, tratando-se de um bebé tão pequeno, nunca pensei que o caso demorasse tanto tempo a ser resolvido e que o dia dele ir para a instituição realmente chegasse a acontecer. Mas aconteceu...
Umas noites antes, parecia que o pequeno A. estava a pressentir que
algo iria acontecer ou que iria ser separado de mim. Nessa noite não pregou olho um segundo e fez-me sair do quarto com ele para não acordarmos os outros bebés e respectivos pais porque ele só queria rir à gargalhada e que eu conversasse com ele. Fez-me andar quase toda a noite a percorrer o corredor da pediatria com ele ao colo tantas vezes e, apesar de mal conseguir aguentar-me com o cansaço, fiz-lhe a vontade porque só por um sorriso dele já vale a pena todo o cansaço do mundo.
No dia anterior a irem-me buscar, a enfermeira-chefe da pediatria veio-me avisar que iam buscar o A. pela manhã e voltou o meu desassossego. Passei o dia aterrorizada e só queria aproveitar ao máximo as últimas horas com ele. No dia seguinte, eu já sabia que, a partir das 10 horas da manhã, a técnica social poderia ir a qualquer hora e que, dum minuto para o outro ia ficar sem o meu bem mais precioso. Pedi à minha mãe para estar no hospital connosco, eu sabia que não ia conseguir aguentar tudo aquilo sozinha...
Vi as portas do corredor a abrirem-se e vi a enfermeira-chefe a acompanhar uma senhora, com um ovinho desgastado, e aí soube logo quem era... As lágrimas começaram a correr sem que as pudesse controlar e abraçava o A. como se o pudesse proteger do mundo. As enfermeiras acabavam de recolher o sangue do A. para as novas análises e, assim que acabaram a técnica social e a enfermeira-chefe aproximaram-se de nós para nos explicarem todo o procedimento. Acabei de o vestir e meti-o no ovinho. Deram-me a escolher: a mãe pode ficar aqui no quarto ou pode levá-lo ao carro". Ainda nem tinham acabado a frase, quando eu apressei-me a responder que não ia abandonar o meu filho e ia estar com ele até ao último segundo.
Peguei no ovinho, bem junto a mim, e comecei a percorrer o corredor, sem desviar os olhos do A. por um único momento e as lágrimas continuavam a correr, cada vez mais, com uma dor na garganta daquelas que sentimos quando nos queremos conter e não conseguimos. Nesse momento, o corredor parecia feito de kilómetros intermináveis, sob o olhar curioso e de compaixão por quem passávamos. Conseguia perceber o ar pesado que sentia naquele hospital à medida que íamos passando. Descemos no elevador e saímos pela porta principal. Lá estava o carro. O carro cor-de-rosa da instituição. Nunca senti tanta dor ao ver algo rosa e logo eu, que adoro tudo o que seja rosa...
Pus o ovinho no banco de traz, apertei o cinto. O meu corpo tremia por todo o lado, agora sim, era real. Eu ia ficar sem o meu filho sem fazer a mais pequena ideia de quanto tempo iria demorar até o ter nos meus braços novamente e sem qualquer tipo de restrições. 
Sorri-lhe, não queria que ele percebesse que o nosso último olhar do nosso até já fosse de dor, não queria que ele visse fraqueza na mãe e ele, sem noção de nada do que se estava a passar, na sua inocência, soltou uma gargalhada e, mal sabia ele que não poderia receber mais a atenção a tempo inteiro da mãe, a pessoa que mais o ama...

2 comentários:

  1. Nem sei o que dizer, nem sei... tenho o coração em arritmia só de imaginar, imagino o da mãe... Não é justo...

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  2. Li a tua história toda de uma só vez e estou a torcer para que ela tenha um final muito feliz. Para ele e para ti. Não quero nem sequer imaginar a tua dor e do fundo do meu coração espero mesmo que a tua relação com o A. seja mágica e feliz para sempre.

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