terça-feira, 12 de março de 2019

Libertei-me

Não foi a melhor maneira de me libertar mas foi a que aconteceu... Tivemos de passar por isto para me libertar de um sorriso que escondia uma dor imensa de todas as vezes que chegava a casa em que tu eras o único motivo que me fazia regressar, de todas vezes que o meu pensamento se perdia no caminho que fazia de volta a casa à qual deixei de chamar lar.
Não sabia como voltar a viver e na dor do sofrimento que passamos agora, vejo uma nova oportunidade de ser feliz, de te fazer feliz, de sermos felizes. Gostava de ter tido coragem de me libertar mais cedo, de me libertar de uma maneira diferente, de me libertar da sobrevivência sufocante.
Sorria com vontade de chorar, com vontade de ficar mais cinco minutos fora dali, fora das correntes que me puxavam para o fundo da escuridão, da âncora que não me permitia ser eu. 
E hoje sei que a batalha vai ser longa, que a felicidade está longe de se sentir na sua plenitude mas não vou desistir... Não vou desistir de ser feliz, de te fazer feliz, de sermos felizes.
Hoje junto os pedaços da alma e colo-os com esperança e coragem, com o intuito de construir a minha liberdade e o nosso futuro.
“Há males que vêm por bem” e este foi o nosso mal, foi o preço que tivemos que pagar para sermos cada vez mais fortes.
Não me consigo arrepender do passado porque foi nele que nasceste. Não me consigo arrepender do presente porque é nele que existes. E sei que não me vou arrepender no futuro porque sei que é nele que me vais acompanhar.
Libertei-me de uma maneira que um dia me vai trazer a felicidade interior como o meu sorriso exterior quer transparecer...

sexta-feira, 8 de março de 2019

confesso

Confesso que digo que mudo mesmo sabendo que continuarei a ser a mesma, aquela que acredita na bondade do outro como se de um livro aberto se tratasse. Confesso que, por mais que queira, não me consigo transformar naquela pessoa fria que tanto desejo ser, para me conseguir aguentar perante cada desilusão. Confesso que continuo a ser aquela pessoa de coração morno, que não perdoa cegamente mas que dá mais uma oportunidade a uma nova pessoa como se não houvesse amanhã.
Encontro-me no querer melhorar, no ter esperança de que o ser humano possa ser melhor, que o ser humano tenha solução no meio do turbilhão de erros e mentiras. Perco-me na desilusão de ser traída pela minha inocência, uma e outra vez, sem conseguir abrir os olhos para a dura realidade que me rodeia. 
A realidade de serem cada vez menos humanos neste mundo de desumanos. A realidade em que as palavras são mais mais obscenas e condenáveis do que as ações. A realidade em que a aparência é valorizada e o carácter é menosprezado.
Confesso que, mesmo não devendo, acredito em valores, em sentimentos, em pessoas. Acredito que o ser humano não muda mas que ainda tem a capacidade de melhorar, que ainda há esperança para a escuridão dos corações e que não somos apenas batimentos cardíacos.
Confesso que vivo numa ilusão em que a arrogância e a falta de caráter não se sobreponham à dignidade.

quinta-feira, 7 de março de 2019

a janela

Ponho-me a olhar pela janela, vejo as pessoas a passar. Em tempos também fui uma pessoa normal, que anda dum lado para o outro, queixando-se de coisas mínimas sem saber dar graças pelo que de bom tem na vida...
Em tempos ja vagueei pela rua fora, sem saber que nada é garantido. As coisas não são o são, o trabalho não o é, o tempo não o é, as pessoas não o são e muito menos os sentimentos.
Somos do tamanho do mundo até que um dia o mundo se apodera de nós e, num suspiro tornamo-nos pequeninos, insignificantes, “esqueciveis”. E, é a partir desse mesmo instante que olhamos à nossa volta com olhos de poeta, vemos beleza na mais ínfima coisa, no mais insignificante pormenor e caímos na realidade. Nada é nosso, nada é garantido. Estamos à espera mas nunca estamos preparados. Ninguém está preparado para a dor, para a perda, para o trauma...
Pensamos em desistir mais vezes do que queríamos mas, há algo em nós que nos faz querer lutar mais um dia na esperança de um dia ser o dia. Na esperança de um dia vencermos a mais pequena batalha até um dia ganharmos a paz. A nossa paz, a paz interior.
Deixamos de desejar o mal e passamos a missão ao universo para que ele devolva a cada um o que merece e tem direito. Talvez seja a nossa crença para que a paz chegue antes de chegar mesmo, para que a paz nos faça respirar fundo sem que nos volte à mente a ideia de desistir do nosso ser, do nosso futuro, do que amamos.
É completamente fascinante como um simples olhar pela janela, com olhos de ver, conseguimos observar o nosso ser...